Peregrinação pelo actor que "já era da família"

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Flores, um peluche solitário, olhares de consternação e interrogação. Este era ontem o cenário à beira da Estrada Nacional 118, convertida a local de peregrinação. Foi ali que, na madrugada de domingo, morreu Francisco Adam, o jovem actor que dava vida à personagem Dino em Morangos com Açúcar, a série de sucesso da TVI.

"Viemos prestar uma homenagem e tentar perceber o que aconteceu", assumem Sandro Sousa e Sandro Fonseca, de 21 e 23 anos, respectivamente. "Somos fãs da série e facto de ser um jovem com uma idade próxima da nossa ainda nos perturba mais", admitem.

"Pobrezinho", afirmam cabisbaixas duas senhoras de bata vestida, a rondar os 60 anos de idade. São os adultos que engrossam a pequena multidão que se aglomera junta à estrada muito movimentada. Mas os crianças e adolescentes, público alvo da série, trazidos pelos pais e avós, olham o local com naturalidade.

Joana e Beatriz Fernandes, de 7 e 8 anos, que veêm o programa "todos os dias", vieram com a mãe, que lhes deu a notícia. "A maior dificuldade que tive foi explicar-lhes que a morte de Dino não foi fictícia, mas sim real", contou ao DN.

"É estranho", diz João, de 11 anos, com um ar traquina. Veio na companhia da irmã Catarina, de 15, e da prima Cristiana, de 12, trazidos pelo avô, que, no regresso de férias, resolveu fazer este desvio. "Não queriam acreditar quando lhes dei a notícia", relatou o avô Gabriel Cruz. No domingo à noite assistiram ao episódio de Morangos com Açúcar, o que lhes fez "impressão", porque na televisão "ele está vivo", afirmou Catarina.

Para Maria Inês, de 11 anos, a interrogação que lhe ficou foi: "não sei como vão ficar os Morangos sem ele, porque ele é que dava piada."

Anabela Coelho veio com o marido, "de propósito" de Vendas Novas e de seguida dirigiram-se a Runa para assistir ao velório do actor. "Só não vou ao funeral porque estou a trabalhar", garante Anabela, justificando: "é como se fosse da família."

Todos os que por ali passaram tinham uma versão dos acontecimentos: "adormeceu", "o local é muito escuro", "não se apercebeu", "um pouco mais ao lado e não tinha acertado nas árvores". Estes são alguns dos reparos mais insistentes dos curiosos, que não perderam a oportunidade de fotografar com os telemóveis e com câmaras digitais.

No local estiveram também duas motas da Brigada de Trânsito da GNR do destacamento do Carregado para tentar manter o trânsito a circular e evitar congestionamentos e acidentes.

Os vestígios ainda são evidentes. Pelo chão, junto do eucalipto onde o Renault Clio cinzento embateu, estão espalhadas peças e o rasto dos pneus no lancil separador está bem marcado. Com o passar do dia as flores foram-se aglomerando neste altar improvisado.

Cerimónias fúnebres

O corpo de Francisco Adam foi entregue à família às 14.00, depois de ter sido autopsiado no Instituto de Medicina Legal, e seguiu para a Igreja Paroquial de Runa, de onde o actor era natural, ontem por volta da 16.00. O seu funeral terá inicio hoje às 15.30, com uma missa de corpo presente. Meia hora depois sairá o cortejo fúnebre para o cemitério da localidade.

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